No princípio Deus criou o céu e a terra. Bem, isso todo mundo sabe. E sabe que após isso ele separou as trevas da luz, as águas da terra, e foi dando corpo à sua criação até chegar a nós, os assim chamados seres humanos, ou, simplesmente, homem. Lá pelo sexto dia Deus colocou todos os seres vivos, animais e vegetais, para mantimento do homem, e no sétimo dia descansou, pois nem Ele é de ferro.
Desde aqueles tempos que o homem vem se aprimorando em implantar o caos na obra divina. Entrou em um processo louco de procriação, a tal multiplicação do “crescei e multiplicai-vos”, como se o Criador tivesse determinado para que nos entregássemos a uma grande orgia universal.
Exagero? Você acha? Então olhe ao seu redor. Pior que ser humano, só motoqueiro. Esses conseguem se reproduzir, em nossas cidades, em velocidade muito maior que a do próprio homem. Dizem que a tal bomba populacional já foi desativada. Até pode ser, mas o estrago já foi feito.
O homem pegou os tais seres vivos e desenfreadamente passou a devorá-los em uma farra horrorosamente desprovida de qualquer pudor. No começo era um de cada vez, agora é aos milhões. Nada escapa, é pior que uma nuvem de gafanhotos.
Bem, vocês devem estar pensando o que o cozinheiro tem a ver com tudo isso. Já lhes digo. Quem vocês acham que botou ordem no caos enquanto Ele descansa? O cozinheiro, isso mesmo, o cozinheiro. No período A.C. (antes do cozinheiro) éramos uns bárbaros. Na era D.C (obviamente, depois do cozinheiro) estamos mais humanizados. Nosso comportamento à mesa alterou nossa forma de nos relacionarmos. O desenvolvimento de uma, afetou a outra.
Retomando a discussão sobre a nossa capacidade destrutiva, foi o cozinheiro que traçou o novo ordenamento de comportamento. Algo mais racional, que permitiu ao homem o desenvolvimento da capacidade de melhor apreciar este tipo de prazer que Ele nos deu. Assim como na questão da procriação, não é um “liberou geral”, no consumo dos alimentos também.
Pois bem, quero ver fazer isso sem o cozinheiro, esses homens e mulheres maravilhosos que se dedicam à arte da boa comida? Alguns, os maldosos (sempre eles), podem dizer que simplesmente somos bárbaros com bons hábitos à mesa. Posso até concordar, mas isso não é problema para ser resolvido na cozinha. Temos que falar com Ele, o Criador. Mas, lembrem-se: Ele ainda está descansando e é melhor não acordá-lo! Já pensaram no que Ele vai fazer quando descobrir o que fizemos com a obra Dele? É melhor deixar quieto e apreciar bem o próximo prato.
Paulo Roberto Bornhofen – Membro da Academia de Letras Blumenauense.Texto escrito por ocasião do 3º Neumarkt Gourmet em Blumenau.23 de agosto de 2010
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